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Coluna literária - Dyandreia Portugal

Abaixo, apresento o capítulo da escritora Matilde Carone Slaibi Conti na obra “Mulheres Extraordinárias – o resgate do legado histórico pela palavra escrita – Vol.2”, lançado em 2022 na Feira do Livro de Lisboa, que apresenta um resumo biográfico da vida de Leonor de Aquitânia, a rainha de dois tronos: Rainha da França e da Inglaterra.


Um abraço fraterno, e até o próximo mês!

Dyandreia Valverde Portugal

Presidente da Rede Sem Fronteiras

Leonor de Aquitânia - Rainha de dois tronos

Por Matilde Carone Slaibi Conti

                                               

Leonor, a Princesa de Aquitânia, foi Rainha da França e da Inglaterra. 

Nasceu em tempos medievos, no burgo de Aquitânia, região da Gália Antiga e que foi, por muito tempo, habitada pelos celtas ou gauleses, os quais eram protegidos pelo Império Romano. Aquitânia foi a corte mais literata e culta do seu tempo. 


Ela era neta de Guilherme IX, um dos primeiros trovadores e poetas vernaculares.

Corriam os tempos das alegorias, dos jograis que se tornaram famosos para todo o sempre, dos templários das chamadas Guerras Santas, dos famosos cavaleiros e seus castelos, da lenda do Santo Graal, das pontes levadiças e do amor impossível de Morgana pelo Rei

Artur, com sua famosa Távola Redonda.


Leonor falava oito línguas. Com o conhecimento adquirido, aprendeu a se integrar na alta sociedade e tornou-se a noiva mais cobiçada entre os líderes do velho continente, sucedendo, mais tarde, o seu pai no trono, tornando-se sua herdeira universal, depois da morte de Guilherme X, acontecida em uma peregrinação a Santiago de Compostela.


O sortudo escolhido pela jovem, na época com 15 anos, foi o Rei Luís VII da França, rendendo-lhe não apenas o título de Rainha Consorte, como inaugurou também o título de Condessa de Poitiers, especialmente criado para a união franco-aquitanesa, obtendo mais poder que o marido, depois da cerimônia religiosa na Catedral de Bordeaux.

Contudo, o casamento desandou, pois, a esposa tinha interesse em conquistar o Condado de Edessa e o marido discordava, acreditando que era mais importante conquistar Jerusalém, onde ela participou da Segunda Cruzada, com suas aias, vestidas a caráter. Tal rachadura dividiu o exército francês e foi o estopim para o fim da relação; mesmo estando grávida de Alice Capeto, sua segunda filha, um acordo com o Papa Eugênio II não foi obtido e a união foi anulada três anos depois. 


A rainha não conseguiu a custódia de suas filhas, mas conseguiu retomar suas terras, que estavam em poder da colônia francesa. Entretanto, surpreendeu a família, quando semanas depois, casou-se com um homem ainda mais poderoso e mais jovem 11 anos, passando de Rainha da França para Rainha da Inglaterra, já que seu marido, originariamente Henrique Plantageneta, depois Henrique II, que dois anos depois, foi coroado Rei e ela Rainha da Inglaterra, na Abadia de Westminster, em Londres, no ano de 1154. 


Leonor era conhecida como uma grande beldade. Uma gravura da época foi encontrada, atestando isso, mas a única semelhança real que temos dela é a sua efígie, que foi colocada em sua tumba, em Fontevraud.


Isso porque, na Idade Média, reis e rainhas não tinham o hábito de ter seus retratos pintados. Na verdade, ninguém sequer registrou a cor dos olhos ou dos seus cabelos.


Durante os treze primeiros anos de casados, Henrique e Leonor tiveram oito filhos. Contudo, em 1171, se desentenderam por conta dos casos extraconjugais dele. Acabou o rei por prendê-la, por ela ter apoiado uma revolta contra ele. Leonor só foi libertada depois de 18 anos, quando o seu marido morreu e seu filho, Ricardo Coração de Leão, subiu ao trono da Inglaterra. 

Contudo, mesmo assim, o casamento deles durou cerca de 40 anos, durante os quais ela deu à luz três filhas e cinco filhos. Com efeito, a maioria de seus filhos foi estrategicamente casada, em toda a Europa, para garantir a lealdade ao governo da família.


A Casa dos Plantageneta iria governar a Inglaterra e partes do continente europeu, com mais ou menos sucesso, pelos próximos 330 anos. Aliás, um dos apelidos de Leonor, com o qual ela passou a ser conhecida na História, foi o de “Avó da Europa”. Nesse interregno, das Universidades que surgiam, como a Universidade de Bolonha, dos novos Estados que apareciam entre os templos religiosos e profanos e da lírica dos poetas medievais, Leonor de Aquitânia, diante de tantos folguedos e alvoroços, criou o chamado Tribunal Feminino, o qual, diante de um conflito, julgava somente as causas oriundas dos conflitos do Amor e da Sedução. Eram juízas nomeadas com a competência, somente para a esses feitos, onde, antes, procuravam desenvolver a mediação e a conciliação, pois não eram misóginas e viviam fortemente o mistério de Eros.  


Quando condenados, os réus sofriam a pena da multa, prisão ou mesmo eram banidos para sempre, de suas cidades.


Foi de grande importância esse primeiro Tribunal, implantado em tempos medievais, pelo olhar humanista de uma grande mulher, pois eram ligadas aos rituais da fertilidade e desfrutavam de um grande respeito coletivo.

Neste tipo de sociedade, segundo narrativas, imperou o vínculo do filho vindo da mãe, da “mater” e não do pai, “pater”. Assim, o recém-nascido recebia o sobrenome da família materna e não da família paterna. O pátrio poder na sucessão de linhagem apareceu bem mais tarde, com o Direito Romano.


Mas, mesmo hoje, temos sociedades em que vigora o sobrenome da mãe, na sucessão da linhagem, como nas Ilhas Maiorcas, situadas na Espanha.


Nunca mais criou-se outro Tribunal do Amor. Esqueceram os juristas de hoje que o amor e o ódio – gigantes que movem a alma – matam muito mais que qualquer outra querela existente.


Antes de ser coroado Rei da Inglaterra, seu filho, Ricardo Coração de Leão, viajou por todo o seu futuro reino para formar alianças e promover a boa vontade. Quando Ricardo partiu para lutar na Terceira Cruzada, Leonor assumiu o comando como regente, tendo plenos poderes para agir. Aliás, ela até pagou o resgaste de Ricardo Coração de Leão, quando ele foi preso pelo Duque da Áustria e pelo Sacro Imperador Romano, viajando ela mesma para trazê-lo de volta à Inglaterra, o que foi feito.


Ricardo morreu jovem ainda, em circunstâncias obscuras, uns dizem que foi em lutas com Saladino e os muçulmanos, outros afirmam que aconteceu um fatídico acidente na sua volta. O fato é que, com sua morte, sobe ao trono o seu irmão João, cognominado de João Sem Terra, pois afirmavam que ele nada possuía, daí advindo o seu nome. 


Contudo, João Sem Terra nos deixou um grande legado, pois, em 1215, foi assinada a Magna Carta, documento que contém a semente do Mandado de Segurança.

A Magna Carta é um dos monumentos jurídicos da História do Direito Universal.

Leonor deu a esse filho um apoio crucial, em uma rebelião liderada por um neto, de nome Artur. Leonor de Aquitânia, então na casa dos setenta, manteve seu compromisso com a estabilidade do reino, inclusive foi à Espanha, para arranjar um casamento de fundamental importância para sua neta, Blanche de Castela, com o herdeiro do trono francês.

Por fim, Leonor de Aquitânia aposentou-se, tornando-se freira. Tomou o véu e morreu no Mosteiro de Fontevraud, em 1204, na França, com a idade de 81 anos. As freiras que escreveram seu obituário a chamavam de “rainha que superou quase todas as rainhas do mundo”, pois foi ela com o seu maravilhamento, em uma alquimia afetiva, que foi a fada madrinha, que deu origem a todos os monarcas das dinastias subsequentes.

Essa foi a Idade Média, que durou dez séculos, com o seu legado de lendas e saberes, de fadas encantatórias que nos deixam, ainda hoje, eternamente fascinados. 

Por outras linhagens, Leonor também é ancestral da maioria das casas reais ou casas nobres italianas e eslavas, tendo como descendentes muitos reis e rainhas, inclusive a atual Rainha da Inglaterra, Elizabeth II.


PS. Esse texto faz parte integrante do livro “Mulheres Extraordinárias – o resgate do legado histórico pela palavra escrita – Vol.2”, páginas 483 a 487, de autoria da escritora e coautora da obra, Matilde Carone Slaibi Conti, radicada em Niterói - RJ, nascida em Minas Gerais (Brasil). Cirurgiã Dentista pela Univ. Federal Juiz de Fora, com Pós-Graduação em Saúde Coletiva pela Escola de Saúde Pública. Advogada militante, formada em Direito pela Univ. Cândido Mendes. Pós-Graduada em Direito Civil e Processo Cível. Doutora e Pós-Doutora em Ciências Jurídicas e Sociais pela UMSA, Buenos Aires. Professora Titular de Direito Processual Civil, da Univ. Salgado de Oliveira, Universo. Professora dos Cursos de Pós-Graduação da Univ. Estácio de Sá, Univ. Salgado de Oliveira e professora conferencista da Escola de Magistratura do Estado do RJ e da Escola de Magistratura Federal.  Psicanalista pela Sociedade Psicanalítica Ortodoxa do Brasil e Pós-Graduada em Psicossomática pela UFF. Historiadora com Pós-Graduação em Geografia, História e Meio Ambiente. Licenciada em Português, Literatura. Pós-Graduada em Revisão de Textos. Teóloga pela Unicesumar. Autora de vários livros em área do Direito, Medicina, Odontologia e Psicanálise. Conselheira e Procuradora da OAB.


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